quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ética única


O jornalista Villas-Boas Correia disse uma vez para uma atenta audiência em Teresina que a ética não é produto que se compre em supermercado. Ou você tem, ou você não tem. Antes dele, outro nome grandemente respeitado na mídia brasileira, o grande Cláudio Abramo, pontificou que sua ética de jornalista era igual à ética do marceneiro e que, portanto, era a mesma coisa, porquanto não existe uma ética para um e uma ética para outro.

Coloca-se tal afirmativa em face da sucessão de acontecimentos que jogaram por terra – ou por lama, como preferiam os leitores – a carreira do senador Demóstenes Torres (GO), que tinha uma vida dupla, sendo uma espécie de Dorian Gray do Congresso Nacional, mostrando para o público uma alma pura em um perfeito retrato, mas sendo um monstro pavoroso em suas entranhas mais recônditas.

Demóstenes, ex-paladino da moral e bons costumes, uma falsa vestal desnudada por uma investigação, desempenhava dois papéis e pensava que, nessa condição, poderia ter uma ética pública e outra privada. Mas não funciona assim. Um homem público precisa ter uma conduta única e responder por ela.

Fingir ser algo que não é termina por ser o pior dos caminhos a se seguir na política. A derrocada do senador goiano é uma evidência disso.

As investigações em torno do senador demonstram que ele fazia traficâncias em favor de um notório contraventor.

Tal ato configura seguramente um desvio grave de conduta, ausência de decoro e, pior que tudo isso, desapego ao exercício de princípios constitucionais aos quais qualquer congressista está submetido. Isso leva a crer que se um homem que pregava a moralidade com fervor fundamentalista assim agia, tanto pior podem agir outros que mantêm obsequioso silêncio diante de fatos graves da vida nacional.

Nesse contexto, parece adequado que se discuta seriamente o legítimo exercício do lobby no âmbito do Congresso Nacional. Escândalos e situações agudas como a do senador Demóstenes deixam clara a necessidade de que regulamentar a atividade de lobby, para tirar das sombras os agentes dos grupos de interesse, lançando luzes sobre um mundo movediço, que costuma ser movido a corrupção e sempre pode destruir carreiras políticas, por mais que se tente usar uma ética sob medida.

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