domingo, 16 de outubro de 2011

Falta de educação


Imagina uma mãe ou um pai de família recebendo um telefonema desses: “Alô, quem fala?”. “É a Paula”. “É da casa Dona Maria de Lourdes?”. “Sim”. “Ela está?”. “Sim, está na cozinha lavando louça”. “Chama ela aí, aqui é do distrito tal”. “Distriiiiiito!, o que foi que houve?”. “Avisa ela que o Dedé Maguim, filho dela, foi preso. A ronda pegou ele e a turma dele bebendo, fumando, se drogando, armado e fazendo arruaça, lá na balada do Zé oim”.


Meu Deus! Eu e você aqui, longe do problema, por mais que nos esforcemos, não conseguiremos sentir um tiquinho sequer da grande dor que os pais e a família sentem nessa hora. Não falo nem de dor física, que
até isso sentirão pelo filho menor, mesmo sabendo que ele será posto em liberdade rapidamente. A dor que eu falo é a dor da vergonha. Porque essa dor é a dor que adoece e mata famílias que não têm, na definição do seu gene, o vírus da delinquência, e nem treinaram seus filhos para cometer tais delitos. Essa família sabe bem a quantidade de Dedés que o Brasil coloca nas cadeias todos os dias. Cadeias que foram construídas nos lugares onde deveriam ser erguidas escolas, centros culturais, ginásios poliesportivos e diversos outros projetos, com o objetivo de ocupar a cabeça e o corpo da juventude brasileira, e é claro, piauiense.


Foi assim, está sendo assim e continuará sendo assim por muitos governos que ainda virão, seja de que partido for.

Não importa a sigla. Pode ser do partido: P%”,!$%¨??,*() ou )_`>:`+, ou ainda #$%¨&&&***{`^_)) não interessa. A falta de vontade política é a mesma. No frigir dos ovos, como dizia meu pai, e eu não estou dizendo nenhuma novidade, escândalos midiáticos preenchem nossas TVs, só vai interessar mesmo o partido do $$$$$, esse aí é forte. É mestre em construir pontes entre o dinheiro público e bolsos escusos. Sabe asfaltar desvios para a passagem confortável de verbas federais. Esse partido aí sabe também construir e rebentar represas, que servirão para acumular as lágrimas que rolarão dos olhos de mães e pais dos Dedés Maguins do Piauí.


Porque, com a falta de educação tradicional, por falta de escolas, com a falta de educação esportiva, pela falta de ginásios, por falta de educação cultural, por falta de teatros, enfim, por uma série de “outras faltas”,
e para arrematar, a total falta de educação com o salário dos professores, que deveriam ganhar mais do que uma série de outras profissões, inclusive parlamentares, uma boa parte da nossa juventude toma o caminho
mais curto para o falso “se dar bem”, que é um mundo de ilusões, mas muito real para eles, o mundo encantado da delinquência.


Dá pena observar uma família, comprovadamente honesta e de boa índole, ver um filho jovem ou uma filha seguindo por caminhos tortuosos por que os governos brasileiros não privilegiam em seus orçamentos, nem em suas ações, a ocupação de nossa juventude, através da melhoria educacional, do incentivo a cultura, esporte e as artes.


Tenho informações de pessoas do ramo que comprovam com certa facilidade que nos bairros onde algumas escolas ocupam as mentes dos jovens em tempo integral o índice de violência é bem menor. E salta aos olhos a felicidade advinda da convivência pacífica existente no seio daquela comunidade.


Peço sinceras desculpas a você que, bem ou mal a carapuça serviu, mas não posso ficar calado com uma situação dessas. Ver jovens trilhando o caminho da violência e do crime e não fazer sequer um comentário. Ficar calado feito um passarinho na muda é omitir-me muito e ainda ser colaborador daqueles que negam as verbas para projetos ocupacionais. Eu sei e você sabe que atitudes como essas só ratificam o velho dito popular: cabeça desocupada, oficina do diabo”. Não tem jeito não. Tudo passa pela educação.



LÁZARO DO PIAUÍ
ESCRITOR







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