sábado, 15 de outubro de 2011

A engenharia e seu legado

É razoavelmente bem estabelecido que foi na Grécia Antiga que se moldou o pensamento
ocidental moderno das ciências e filosofia às artes. O Império Romano, por outro lado, é lembrado
por seu impacto na linguística, no direito, na administração e política. É praticamente impossível
imaginar a vida nos dias de hoje sem a influência cultural dos romanos. Por outro lado, a contribuição
mais importante da sociedade romana foi provavelmente sua habilidade em construir coisas úteis, tendo sido berço da tecnologia e da engenharia moderna. Os romanos foram exímios engenheiros,
construindo aquedutos, estradas, barragens, pontes, sistemas de distribuição de água e de coleta de esgotos, além de anfiteatros, arenas e palácios. A engenharia romana estabeleceu um padrão de qualidade, uma referência para as boas práticas de engenharia. Os romanos tinham como princípio aprender com as experiências de outras civilizações contemporâneas e buscar soluções otimizadas,
construir para a posteridade, seguindo a percepção de que Roma era eterna.

É surpreendente que muitas dessas construções continuam funcionais até os dias de hoje;trechos de estradas romanas ainda são transitáveis, aquedutos com quase dois mil anos ainda são usados na  distribuição de água da Europa Ocidental. Construções que sobreviveram a degradação do tempo, a manutenção precária, as invasões bárbaras, as grandes guerras. Esse é o legado da engenharia romana.

Depois de quase dois mil anos desde os romanos, e com incontáveis avanços científicos e tecnológicos
nesse período, pode-se questionar qual seria o legado da engenharia contemporânea, principalmente a brasileira. Se forem consideradas como referência as obras públicas de infraestrutura das últimas três décadas, há razão para preocupação. Embora a engenharia, com toda sua complexidade e diversidade temática, transcenda em muito as obras civis públicas, é nelas que reside a percepção da sociedade com relação a essa profissão. E somente o bom senso já seria suficiente para se constatar obras civis com falhas de planejamento, execução e manutenção, vida útil curta, todas elas divergindo dos princípios das boas práticas de engenharia. Isto sem mencionar diversos outros aspectos importantes, como o superfaturamento, a inadequação funcional e o atraso na sua conclusão. A engenharia esteve presente nos grandes momentos da história do Brasil, principalmente no surpreendente desenvolvimento econômico que ocorreu durante quase todo o século XX. Agora, o país vive um momento único, com uma oportunidade real para o desenvolvimento sustentável, e a engenharia será novamente convocada a ser protagonista nesse processo.

Entretanto, a engenharia brasileira terá grandes desafios pela frente, principalmente para deixar sua marca na história nacional. Um dos seus principais desafios será aprimorar os padrões de qualidade das obras em todos os seus aspectos técnicos, desde o projeto até a manutenção. Nesse processo, a incorporação de novas tecnologias disponíveis no mercado também será fundamental. Para isso, será necessário que os engenheiros estejam atualizados com esses avanços tecnológicos, o que pode ser alcançado com cursos de extensão e pós-graduação.

Nesse contexto, as escolas de engenharia desempenharão um papel crucial, não somente formando novos engenheiros, mas também contribuindo para que estes mantenham seus conhecimentos atualizados. A dicionalmente, no campo jurídico, é necessário criar mecanismos mais eficientes de fiscalização e auditoria de obras, principalmente no que se refere aos elementos de adequação técnico-financeira. Finalmente, esses mecanismos de fiscalização poderão criar embasamento para a eventual responsabilização jurídica por eventuais falhas de engenharia. A engenharia sempre teve como principal motivação o compromisso de construir para o bem estar da humanidade. Por isso, vem sendo
admirada pela sociedade há séculos. Júlio César, o grande general romano, uma vez disse “Os homens
acreditam sinceramente no que desejam”. A pergunta é: o que desejam os engenheiros brasileiros?
Espera-se que seja, no mínimo, o respeito à sua própria profissão.



JOÃO FRANCISCO JUSTO FILHO E
JOSÉ ROBERTO CASTILHO PIQUEIRA
ENGENHEIROS

Nenhum comentário:

Postar um comentário