sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Descuido fatal



Um ditado francês ensina que o diabo mora nos detalhes. Em uma adequação da sabedoria popular do país de Jean-Paul Sartre, talvez devêssemos dizer que o diabo mora na imprevidência, na falta de acuro, na desídia, na omissão, na negligência e na recorrente falta de respeito com as pessoas. Esse tipo de descuido banalizado a ponto de tornar-se ‘natural’ pode ser fatal.


Foi por descuido, negligência, falta de manutenção ou coisa que o valha que uma mulher jovem de apenas 19 anos, trabalhadora, mãe de dois filhos, morreu eletrocutada no começo da noite de segunda-feira: um vazamento de energia da rede de alta tensão da Eletrobras Distribuição Piauí energizou um gradil, o que, sem
meias palavras, torrou a mulher que inadvertidamente tocou nas barras de ferro.


O episódio é um sintoma agudo e doloroso de descuidos recorrentes de empresas concessionárias de serviços públicos e
do poder público encerregado de fiscalizá-las. Há de tudo: redes de distribuição elétrica cujos sistemas de proteção não
funcionam; redes telefônicas que encostam na rede elétrica e podem causar eletrocutação de trabalhadores e usuários; sistemas de canalização de água e esgoto que podem causar danos a terceiros; ruas não sinalizadas adequadamente quando em obras; omissão quanto à ocupação de áreas de risco; ausência das autoridades de trânsito quando sinais luminosos entram em pane.


É inaceitável que pessoas morram pelo que alguns preferem classificar como ‘fatalidade’. Não existe acidente onde normas e protocolos de segurança são seguidos à risca. Igualmente não é o destino quem se encarrega de causar danos às pessoas (óbitos incluídos) em face de desastres ocasionados por imprevidência de terceiros, os quais podem e devem ser responsabilizados civil e criminalmente, quando couber, por danos materiais, morais, pessoais, estéticos e financeiros.


Episódios como o da eletrocutação da dona de casa Ana Carolina não podem apenas nos causar reações de espanto.

Eles precisam servir para que exijamos mais cuidado com manutenção de equipamentos de uso público, sejam públicos ou privados. Afinal, não se pode ignorar que desídia, negligência, descuido ou coisa similar pode custar uma vida – que não tem preço





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