domingo, 9 de outubro de 2011

Cuidados fiscais


É tristonho constatar o fiasco de algumas das mais reluzentes economias da Europa, como a Irlanda, ‘o tigre celta’, a Espanha, que era um retrato de como a União Europeia poderia salvar países antes condenados ao fracasso, a Grécia, salva de uma ditadura e da depressão econômica, e Portugal, que até 20 anos atrás era praticamente um enclave de pobreza e subdesenvolvimento em uma Europa orgulhosa de suas conquistas sociais democratas.  

Ocorreu naqueles países o que se dá em muitas nações que experimentam um desenvolvimento galopante: a impressão de que tudo podem, que têm licença gastar além da conta, com despesas insensatas, não planejadas e que causam enormes danos fiscais. Nenhum dos países europeus que está quebrando parece ter se dado conta previamente de que gastança desenfreada leva à bancarrota fiscal. Eles pagam agora o alto preço da irresponsabilidade fiscal e do descaso com uma regulação mínima do sistema financeiro.  

O Brasil olha atualmente para esses países e até se dá conselhos econômicos. Mas estaria realmente o nosso país apto a condenar governos que gastaram além da conta? Talvez devêssemos olhar um pouco mais para nossas próprias contas públicas para perceber que a partir de 2008, Brasília optou por gastar mais.  

O Brasil avançou contra sua própria política de rigor fiscal quando inclusive abriu mão do IPI para carros, eletrodomésticos e material de construção, passando a conta para estados e municípios, muitos dos quais ainda tentam, tropegamente, reduzir os danos financeiros ocasionados pelo remédio de Brasília para evitar o contágio daquela crise.  

Obviamente que o país dispõe de mecanismos legais e eficientes para manter a austeridade fiscal. Muito mais que países europeus em grandes dificuldades, obrigados agora a mandar funcionários para casa ou a cortar gastos sociais que não são compreensíveis. Mas as garantias legais de austeridade não são suficientes. É preciso que o governo brasileiro não perca de vista a necessidade de pisar nos freios dos gastos públicos. Nenhum cidadão brasileiro merece o destino triste reservado a gregos, portugueses, espanhóis e irlandeses, que viveram a euforia de uma economia forte, mas hoje estão na ressaca de uma festa mal planejada.

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